ESTAMOS CHORANDO POR NOSSAS IGREJAS VAZIAS?

Quase todas as igrejas ficaram vazias da noite para o dia. O culto público a Deus foi removido em muitas nações. Se você foi impedido de participar do culto público, está lamentando isso como Davi (Salmo 42:2-5)? Por que isso deveria causar tanto sofrimento? A adoração é a atividade mais elevada em que podemos nos engajar e Deus coloca ênfase especial na adoração pública (Salmo 87:2). O que é mais importante que o culto público a Deus? Este é o propósito pelo qual as almas são tiradas das trevas espirituais (1 Pedro 2:9). A intenção não é fazer com que as pessoas se sintam culpadas por serem impedidas de participar do culto público. Às vezes, existem coisas fora do nosso controle que nos impedem. A questão crucial é: estamos chorando por uma remoção tão extraordinária e solene do culto público na face da terra?

Alguns dirão que podem adorar em particular em casa e que isso pode compensar grande parte da perda. Conectar-se distante como espectador a um prédio vazio não é o mesmo que culto público. O culto privado é um grande privilégio e benefício, pode nos trazer muita edificação. Mas, por definição, ele não é o culto público. É lá (no culto público) que mais queremos louvar a Deus (Salmos 22:22 e 25). Assim, a Confissão de Westminster diz que Deus deve ser adorado “mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser descuidadas, nem voluntariamente negligenciadas ou abandonadas, quando Deus, por Sua Palavra ou providência, proporcione ocasião” (WCF 21: 6) O Senhor promete uma bênção especial para o culto público (Êxodo 20:24). Davi desejou muito isso e nós deveríamos fazer o mesmo (Salmo 27: 4; 63: 1-2).

E o que dizer da glória pública de Cristo? A glória pública de Cristo é vital – Sua glória na Igreja e na sociedade. Uma grande expressão disso  é a adoração pública a Deus (Salmo 29:9). Deus é mais glorificado pelo culto público do que qualquer outro culto. É possível glorificar a Deus no sigilo de nossos corações e na privacidade de nossos lares. De fato nós queremos que a glória de Deus seja manifestada tanto em público como em privado? Geralmente, é isso que queremos dizer quando lemos nas Escrituras sobre a glória do Senhor sendo revelada. Queremos que o maior número possível de pessoas veja essa glória e se agreguem para louvarem a Deus juntos (Salmo 96:1-3; Salmo 66:1). “Engrandecei ao Senhor comigo; e juntos exaltemos o seu nome.” (Salmo 34:3).

As Escrituras nunca encaram a remoção do culto público como algo menos do que desastroso (leia o Salmo 74 para um exemplo). Não é uma coisa irrelevante, não é “apenas uma daquelas coisas” que são incomuns e deploráveis, mas, no entanto, são apenas “lamentáveis”. Muitos intérpretes concluíram que o início da reunião de culto público é descrito em Gênesis 4:26. Seria solene olhar para trás e identificar o momento presente como um momento em que as pessoas começaram a não invocar o nome do Senhor, devido à remoção do culto público.

O livro de Lamentações é exatamente para um tempo como este. Ele traz eventos dentro deste panorama. Jeremias testemunhou a destruição de tudo. Ele derramou seu coração e suas tristes súplicas diante do Senhor. Suas lágrimas fluem livremente, especialmente no que diz respeito às perdas espirituais, como a destruição do templo. “Os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem venha à festa solene; todas as suas portas estão desoladas” (Lamentações 1:4).

É perceptível que ele remonta às advertências de Deus através dos profetas de que isso aconteceria. Assim, em última análise, é o Senhor que “rejeitou o seu altar” e o santuário. Ele “arrancou o seu tabernáculo com violência … destruiu o lugar da sua congregação” e “em Sião, pôs em esquecimento as festas solenes e o sábado” (Lamentações 2: 6-7). O texto seguinte, é um extrato atualizado da exposição desse versículo por David Dickson.

1. Deus remove a Sua proteção

Outro ponto de sua lamentação é que Deus retirou a proteção de Sua igreja. É como se um homem removesse a cerca do seu jardim e deixasse todos os animais entrarem nele. Ele tirou o Seu tabernáculo, como alguém que tira a cerca do seu pomar. Ele destruiu os locais de congregação, para que eles não tivessem um lugar para se reunir. Ele fez com que suas festas solenes e sábados fossem esquecidos, isto é, não restaram lembranças das solenidades públicas. O fato de Deus violentamente remover o Seu tabernáculo nos mostra que não há lugar tão santo que Deus habite a menos que seja visitado de maneira santa. Embora Ele tenha dito a respeito de Jerusalém, “este é o lugar do meu descanso para sempre” (1 Reis 8:13 e 9:13), ainda assim, quando abusaram disso, Ele o abandonou.

2. Deus remove a Sua presença

Jerusalém tinha essa promessa, mas Deus removeu Sua presença porque Sua adoração foi abusada. Como, então, qualquer lugar sem tal promessa afirma que Deus permanece ali? Nunca houve um lugar em que Deus fosse mais estritamente presente do que em Jerusalém. No entanto, quando eles abusaram disso, Ele os deixou, pois Ele é um Deus de olhos puros demais para contemplar a iniquidade (Habacuque 1:13). Ninguém pense que desfrutará da Palavra e do evangelho, a menos que ande na sua luz. O Senhor exporá Sua Palavra e ordenanças à zombaria e lançará Seu pão àqueles que não têm fome?

Mas, vendo que o Senhor tenha prazer em manter um tabernáculo entre nós, não sujemos o lugar de Seu descanso com nossos pecados. Não desperta o nosso amor até que Ele queira (Cântico de Salomão 2:7). Não faça com que Ele se afaste de nós e siga o Seu caminho. Pois se o fizermos, embora sejamos queridos por Ele e estejamos tão perto dele quanto o anel do sinete de Sua mão (Jeremias 22:24), Ele nos arrancará e nos rejeitará. Ele não faz acepção de pessoas (Atos 10:34), mas fará conosco como a Sua Igreja nos tempos antigos.

3. Deus remove a igreja visível

Deus “destruiu os lugares da sua congregação”. Isso mostra que os pecados dos cristãos professos provocarão Deus a remover a face ou aparência externa de uma igreja visível. Se não fizermos melhor uso de nossas reuniões na igreja, Deus as terá como lavatórios imundos. Não havia igreja visível na terra, exceto Jerusalém, mas quando abusaram da idolatria, Ele a dispersou. Embora algumas pedras aqui e ali fossem reservadas para uma nova edificação, a face de uma igreja visível foi abolida. É uma grande tolice dizer que sempre haverá uma igreja visível em algum lugar, assim como afirmar que uma igreja não pode ofender a Deus.

As festas solenes de Judá eram o equivalente a nossas comunhões. Se não fizermos uso de nossas reuniões solenes, pregações frequentes e comunhões, elas cairão no esquecimento. As insígnias públicas pelas quais devemos seguir nosso Senhor deixarão de ser exibidas.

Conclusão

Essas são considerações verdadeiramente solenes que devemos levar a sério. Elas são muito aplicáveis ao nosso próprio tempo. É fácil termos o culto público como garantido, até que ele seja tirado de nós. Já o tratamos como deveríamos, nos beneficiamos dele como deveríamos? Fomos muito simplistas ao supor que Deus não rejeitaria a Igreja que o professa no Ocidente? Será que (como no Israel do Antigo Testamento) nós realmente corrompemos a adoração de Deus para adequá-la mais às nossas preferências do que às Suas ordenanças e, portanto, Deus está tirando isso de nós?

 

Second Reformation Author: David Dickson

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