Do gênero à nacionalidade ou à raça – podemos escolher a identidade que queremos? São essas coisas que definem nossa identidade real? Mesmo se resistirmos a todos os outros rótulos – o que exatamente significa ser humano nos dias de hoje? Outras sutis influências dentro da sociedade nos dirigem para encontrarmos nossa identidade a partir daquilo que temos e que fazemos. Existe algo fixo que vai além de noções subjetivas mutáveis?
Sim. Podemos extrair nossa identidade do que Deus fez e do que Deus disse. Precisamos voltar ao começo, à criação. Não podemos entender quem somos sem isso. Esta é a base da compreensão da nossa identidade pessoal. Isso é exatamente o que Hugh Binning faz no seguinte extrato atualizado.
1. Nossa Identidade Original
É certo que você nunca entenderá corretamente a si mesmo ou o que você é, até saber primeiro o que a humanidade foi feita para ser. Você não pode imaginar qual é a sua miséria presente até saber a felicidade que o homem teve quando foi criado: “façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26).
Alguns chamaram Adão de microcosmo do mundo, porque ele tinha o céu e a terra juntos nele, como que casados. Ele uniu duas naturezas remotas e distantes. O pó da terra e o espírito imortal (chamado de o sopro de Deus) docemente ligados, unidos e inclinados um ao outro. Nesta obra, o Senhor fez um microcosmo de todas as Suas obras. Ele reuniu em uma criação a maravilhosa sabedoria, ser, viver, mover, sentir e inteligência que estão espalhados nas outras criaturas. Nós carregamos em nós as maravilhas que admiramos no resto da criação.
Com uma simples palavra, esse imenso quadro do mundo começou do nada. Mas ao criar a humanidade, Deus age como um artesão habilidoso: “Façamos o homem”. Ele faz em vez de criar. Ele primeiro levanta as paredes da carne, constrói a casa do corpo com todos os seus órgãos, todos os seus aposentos, e então Ele faz um convidado nobre e divino para habitar nela. Ele sopra a respiração da vida.
2. Nossa Identidade Original Única
Mas o que o Senhor quer que consideremos mais é a imagem de Si mesmo impressa no homem: “Façamos o homem à nossa imagem”. Não havia criatura sem algumas gravuras de Deus e Seu poder, sabedoria e bondade. Dizem que os céus declaram a Sua glória (Salmos 19:1). Mas o que quer que eles tenham, é apenas a parte inferior dessa imagem, algumas sombras e semelhanças nebulosas Dele. Mas a obra final da criação é feita de acordo com Sua própria imagem. Ele se reflete nisso como num espelho. O resto da criação se assemelha a Seus passos, mas o homem se assemelha ao rosto Dele. O homem foi feito “à nossa imagem, à nossa semelhança”.
É verdade que somente Jesus Cristo, Seu Filho, é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hebreus 1:3). Só Cristo se assemelha a Ele perfeitamente e completamente, em todas as propriedades. Ele é outro eu na Sua natureza, propriedades e operações. Cristo é tão semelhante a Ele que é um com Ele, é realmente uma unidade mais do que uma semelhança.
Mas o homem foi criado de acordo com a imagem de Deus, com alguma semelhança (não igualdade ou unicidade) de Si mesmo. É um grande privilégio, de fato, ser como Deus. Como poderia o homem ser como Deus, que é infinito, incompreensível, cuja glória não pode ser dada ou compartilhada com outro? Existem aspectos únicos do Seu ser, nos quais Ele não pode ser comparado com ninguém. Nestes, Ele deve ser adorado como transcendendo infinitamente todas as perfeições e concepções criadas. Mas ainda em outros Ele se revela para ser imitado e seguido. Para este propósito, Ele primeiramente, no princípio, imprimiu essas qualidades no homem, moldando-o.
3. Nossa Identidade Moral Original
Se você quer saber quais são essas qualidades em particular, o apóstolo as define. Elas incluem “conhecimento” (Colossenses 3:10), “verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:24). Esta é a “imagem daquele que o criou” (Colossenses 3:10). É a imagem que o Criador imprimiu no homem, para que ele pudesse buscá-Lo. Ele o separou para manter comunhão com Ele e abençoá-lo. Há um espírito dado ao homem com capacidade de conhecer e desejar. Este é o rosto de Deus esboçado e isto não está gravado em nenhuma outra criatura que tenha sentimento. Uma das operações mais nobres e excelentes da vida, que exalta os seres humanos acima das feras, é nossa capacidade de refletirmos sobre nós mesmos e conhecermos a nós mesmos e ao nosso Criador. Outros seres têm instintos naturais adequados às suas próprias naturezas, mas nenhum deles tem capacidade de saber o que são ou o que possuem. Eles não podem conceber ideias sobre quem lhes deu um ser.
Deus limitou o olho para responder a cores e luz, Ele limitou a orelha, o ouvido, de forma que não pode reagir sem sons. Ele atribuiu a todos os sentidos o seu próprio alcance dentro do qual eles se movem. Mas Ele ensina o conhecimento ao homem e Ele amplia a esfera de seu entendimento além das coisas visíveis, para coisas invisíveis ou espíritos. Ele colocou uma capacidade na alma para conhecer todas as coisas, inclusive a si mesma. O olho discerne a luz, mas não vê a si mesmo. Mas Ele dá um espírito ao homem para conhecer a si mesmo e seu Deus.
E então há um poder voluntário na alma pelo qual ela se dobra para qualquer coisa que seja concebida como boa. O entendimento dirige e a vontade comanda de acordo com sua direção. Então, todas as faculdades e sentidos que obedecem a esses comandos formam um excelente retrato da imagem de Deus. Havia uma doce proporção e harmonia em Adão, tudo estava no devido lugar e subordinação. Os movimentos do homem imortal começavam de dentro. A lâmpada da razão brilhava e dava luz. Não havia agitação, escolhendo ou recusando até que a razão se movesse. Isto era como um raio da luz de Deus refletida na alma do homem.
Quando a razão discernia o bem e o mal, esse poder na alma influenciava a pessoa como um todo, para escolher o bem e recusar o mal. Não haveria semelhança viva com Deus se houvesse apenas poder para conhecer e desejar. Essas capacidades também devem ser embelezadas e adornadas com graças sobrenaturais e divinas de luz espiritual, santidade e justiça. Estas completam a imagem de Deus na alma de modo pleno.
Havia uma luz divina que brilhava no entendimento até que o pecado interveio e a eclipsou. O doce calor e calor da santidade e retidão nas afeições vinham da luz da face de Deus. Não havia nada além de pureza e limpeza na alma, nenhuma escuridão da ignorância, nenhuma confusão de afeições carnais. A alma era pura e transparente, capaz de receber os raios refrescantes e esclarecedores do semblante glorioso de Deus.
Esse era o rosto e a beleza da alma. Esta era a beleza e excelência: a conformidade com Deus. Isso a tomava por completo, no entendimento e nas afeições. O entendimento tinha que ser conformado ao entendimento de Deus, discernindo entre o bem e o mal. Como um raio desse sol, um fluxo daquela fonte de sabedoria, uma luz do entendimento de Deus, tinha que ser conformado a Ele.
A vontade concordava com a Sua vontade: aprovava e escolhia o que Ele aprovava, e recusava o que Ele odiava. Essa união estava mais próxima do que qualquer vínculo entre os homens. Era como se não houvesse duas vontades, mas, por assim dizer, uma. O amor de Deus refletindo na alma atraia a alma de volta a Ele novamente. O amor era o princípio de conformação que moldava a pessoa inteira, por dentro e por fora, a ser como Deus e a obedecê-Lo. O homem foi formado para a comunhão com Deus, e ele deveria ter essa semelhança ou então eles não poderiam ter um vínculo como amigos.
4. Nossa Identidade Moral Original Destruída
Mas é triste pensar de onde caímos e quão grande foi nossa queda. Cair de uma condição tão abençoada é uma grande desgraça. Satanás nos roubou nosso rico tesouro, a imagem gloriosa da santidade. Ele desenhou a própria imagem do inferno em nossas almas, o próprio rosto do inferno, as características distintivas de seu semblante infernal. Mas a maioria das pessoas não tem conhecimento de nada disso. Se pudéssemos considerar todas as tristes e terríveis consequências do pecado no mundo e quais as misérias que a queda causou em toda a humanidade, veríamos que terrível queda foi essa.
O pecado interveio entre Deus e nós, isso escureceu nossas almas e as matou. A luz do conhecimento foi apagada, a vida da santidade extinta. Agora não resta nada de todo aquele edifício majestoso, exceto algumas ruínas de princípios comuns de razão e honestidade na consciência de todos. Estes apenas nos mostram como era o edifício. Nós caímos da santidade e, portanto, da felicidade. Nossas almas estão deformadas e contaminadas. Se o pecado fosse visível, quão feia seria a forma da alma para nós. Isso porque perdeu sua própria beleza, que é a imagem de Deus.
5. Nossa Identidade Moral Original Restaurada
Nós devemos saber de onde nós caímos e em que abismo de pecado e miséria nós caímos. Quando sabemos disso, as notícias sobre Jesus Cristo, um Mediador e Redentor do homem caído, são doces para nós. Foi a vontade do Senhor deixar a Sua imagem ser desfigurada e arruinada em nós, porque Ele tinha o propósito de repará-la e renová-la de modo ainda melhor do que era antigamente. Ele criou a natureza humana de Cristo de acordo com Sua imagem para esse propósito. Ele carimbou essa imagem de santidade em Sua humanidade. Isto foi feito para ser um padrão e penhor da restauração da glória e da excelência original para as almas que fugirem para Ele em busca de refúgio. Ele fez o Seu Filho como nós para que pudéssemos ser novamente feitos como Ele. Ele disse na eternidade: “que um de nós seja feito homem”. Isso foi para que se pudesse dizer mais uma vez: “que o homem seja feito como nós, à nossa imagem”. Apenas uma segunda criação pode fazer isso. Olhem para os seus corações e perguntem se esta nova criação foi formada em vocês. Vocês devem ser recriados nessa imagem se pertencerem a Cristo.
Conclusão
Há muitas vozes em nossa geração incentivando todos a buscarem sua própria identidade. Os jovens muitas vezes estão em busca de uma identidade, mesmo que isso signifique que suas mentes e corpos estão em conflito uns com os outros. Mas isso nunca trará a felicidade e a paz que buscamos. Perdemos uma identidade e precisamos dela recuperada, mas é a identidade que Deus deu e nos oferece e não aquela que escolhemos de acordo com nossas próprias preferências. Em certo sentido, o evangelho está nos dizendo: “seja quem você foi destinado a ser, quem você foi criado para ser”. Só descobriremos isso se formos uma nova criação em Cristo. Essa é a verdadeira base para nossa identidade pessoal.