Os Covenanters Eram Puritanos?

Os Covenanters [Pactuantes] compartilhavam certos princípios com os puritanos ingleses. Havia uma ênfase na autoridade suprema da Palavra de Deus em assuntos de adoração e prática, bem como nos de doutrina. Eles compartilharam o compromisso de aprofundarem o trabalho da Reforma, que os uniu na Assembleia de Westminster. Seus escritos manifestaram a mesma maturidade espiritual e o mesmo verdadeiro temor a Deus, e fizeram a mesma pregação fiel das Escrituras. Eles se concentraram na eternidade, na guerra contra o pecado, no Culto familiar e na prática da piedade. Não seria natural pensar nos Covenanters como sendo os puritanos escoceses?

A resposta curta é: não, não seria exatamente isso. E há várias razões para isto.

1. O puritanismo é um termo impreciso

O puritanismo é um movimento notoriamente difícil de ter definido pelos estudiosos quanto a: quando ele começou e quando terminou, quais os seus principais princípios e quem pode receber este rótulo. Esta, portanto, não é uma maneira útil de se entender os Covenanters e os seus princípios. Não é útil pensar na Nova Inglaterra como praticamente idêntica à Escócia naquele momento.

Os puritanos poderiam ter diferentes pontos de vista ou posições doutrinárias sobre o governo de igreja. O termo Covenanter, em contraste, é muito mais definido, pois fala de reforma pactual e é preciso em termos de governo de igreja, Culto e doutrina.

O termo puritano não indica fidelidade a uma forma particular de governo de igreja. Os Covenanters, no entanto, estavam muito comprometidos com o governo presbiteriano de igreja, e sofreram imensamente em sua defesa. Para chamarmos os Covenanters de puritanos deixamos de lado a importância que eles atribuíram aos princípios presbiterianos. Pode-se muito bem dizer-se mais sobre a indiferença moderna com as questões do governo de igreja, do que sobre uma indiferença desta da igreja escocesa do século XVII.

2. O puritanismo foi um termo de curta duração na Escócia

O termo puritano foi usado na Inglaterra a partir de 1564, mas nunca foi especialmente usado na Escócia antes de 1618, quando foram trazidas as mudanças para o Culto da Igreja da Escócia, para alinhá-lo com o da Igreja da Inglaterra. Aqueles que resistiam às mudanças defendiam o status quo, ao invés de procurarem mudá-lo. Os puritanos na Inglaterra tentavam, inversamente, mudar o status quo, para combinar com a prática na Escócia. Mas sim, havia semelhança no que eles estavam defendendo. Os presbiterianos foram apelidados de puritanos pelas autoridades da Igreja, a fim de manchar sua reputação. O nome caiu em desuso na Escócia depois de 1638, quando os bispos e seus adeptos caíram do poder.

O movimento Covenanter na Escócia foi diferente do puritanismo inglês em seu propósito. A Reforma, sob John Knox, não tinha sido um compromisso de meio termo, mas algo que os puritanos admiravam. Os Covenanters estavam resistindo às mudanças que levariam a Igreja para longe da sua posição original, ao invés de tentar efetuar mudanças. Os puritanos, no entanto, visavam purificar a Igreja semirreformada da Inglaterra de suas práticas católicorromanas. Esta é uma diferença significativa.

3. O puritanismo foi rejeitado na Escócia como um termo abusivo

Claro que, no início, também era um termo abusivo na Inglaterra. No entanto, os puritanos ingleses chegaram a aceitá-lo. Robert Bolton falou de “Puritano” como “o apelido honrado dos melhores e dos mais sagrados”. John Geree o celebrou em: “The Character of an Old English Puritan, or Non-Conformist” [O Caráter de um Velho Puritano Inglês, ou Nãoconformista] (1646).

Samuel Rutherford, no entanto, apenas usou essa palavra referindo-se a ela como um termo de abuso, aplicado pelos inimigos dos presbiterianos (ver Cartas 11, 59 e 262). Em um sermão, ele se refere a quem tinha medo de ser apelidado de puritano. Isso não significa, no entanto, que eles o acolheram. George Gillespie se opôs ao fato de que “eles fazem cristãos piedosos e zelosos serem zombados e apelidados de puritanos, exceto se puderem engolir o camelo da conformidade”. Ele diz que esse era o termo aplicado a uma antiga heresia.

“Nossas consciências nos fazem testemunhar como, sem nenhuma razão, somos marcados com o nome desses antigos hereges, de cujas opiniões e maneiras estamos à distância. E quanto a nós mesmos, apesar de tudo isso, não nos repreendemos, por causa de Cristo. Sabemos que os velhos valentes, antes de nós, também foram nomeados por seus adversários de cátaros ou puritanos e que, sem motivo, esse nome foi dado tanto a eles quanto a nós. Mas lamentamos muito que, por caminharem com humildade com Deus, por buscarem ansiosamente os meios de graça e de salvação e por fazerem de boa consciência todos os seus caminhos, devam ser odiados, e que a piedade, a humildade, o arrependimento, o zelo, a consciência, etc. devam ser zombados, e tudo por ocasião das cerimônias.”

Conclusão

Pode não parecer um ponto de peso, mas é melhor evitar o crescente erro de se referir aos Covenanters como puritanos ou puritanos escoceses. Em vez disso, deixem-nos apreciar a distinta diferença.

Second Reformation Author: George Gillespie

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